Então, sobre a divulgação de X-Men Apocalipse



O recentemente falecido escritor, semiótico e filósofo Umberto Eco já dissera que a internet tem dado voz a uma grande legião de imbecis. A afirmação que a princípio nos parece tão carregada contudo não está distante de cada nova discussão que agita e movimenta as redes sociais, e como isso, como questionarmos Eco quando afirma O drama da Internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade, algo que fica aparente em questões como a recente discussão sobre a menina estuprada no Rio de Janeiro, ou então a polêmica acerca da divulgação no novo filme da franquia X-Men, Apocalipse.

Acontece que ao contrário do que se poderia supor, a internet não contribui para a discussão e o debate, mas sim acaba repercutindo numa escala global a banalização da opinião, a destruição da argumentação criando uma verdadeira ode à pobreza do discurso. Tudo isso porque, via de regra as pessoas na pressuposição de estarem participando da sociedade, contribuindo com suas opiniões, simplesmente estão reproduzindo uma simplificação perigosa do pensamento. É o caso dessa discussão sobre a polêmica divulgação do filme que gerou uma forte manifestação dos movimentos contra a violência contra as mulheres.

Então, como se fosse pecado movimentos legítimos alertarem para a questão, logo nossas timelines foram abarrotadas por pensamentos divergentes, entretanto, rasos e simplificados de uma questão que carece sim de reflexões muito mais profundas do que dizer que é mimimi ou aderir à critica por convenção. Mas a internet não tem sido o campo das discussões sérias, e dentre as banalizações, o que mais chama a atenção é justamente a confusão criada tentando interligar crítica a postura comercial da empresa com a produção cultural em si. Provavelmente os leitores deste espaço viram alguém publicar ou reproduzir algo como "agora já não poderemos ter mais vilões nos filmes", "o vilão terá que no máximo pisar na grama", exemplos de como essa banalização enfraquece as discussões.

Queridos, queridas (ou não), um meme ou um post (mesmo este aqui) não será capaz de dar conta da complexidade do assunto. Aliás, tampouco a crítica é sobre o filme, mas sim sobre como que em sociedades em que a cultura de violência contra as mulheres ainda é tão presente, uma empresa utiliza uma imagem simbólica para comercializar seu produto. Isso sim é que sempre foi o x da questão. As obras de arte, de cultura, inclusive a cultura pop devem sim trazer estas idiossincrasias humanas, devem conter suas feridas, suas distorções, mesmo suas deturpações, do contrário não teria valor algum. Entretanto, é o uso comercial que deve ser discutido nessa questão, algo como disse a atriz Rose McGowan Há um grande problema quando as pessoas da 20th Century Fox acham que a violência ocasional contra as mulheres é uma maneira de comercializar um filme. Não há contexto, apenas uma mulher sendo estrangulada. Dito isto, aqui só fica um pedido (que certamente nunca será atendido), antes de sairmos correndo atrás de likes e retweets para nossas opiniões, a pergunta essencialmente a ser feita é o quão complicado é opinar sobre isso que aconteceu, pois o primeiro passo para qualificar nossas opiniões é justamente saber que neste mundo nada é tão simples como pode nos enganar as aparências.