A Sociedade da Árvore Cinzenta



No coração do grande e lodoso pântano ficava a árvore cinzenta. De galhos retorcidos, mas férteis aos seus, e com uma seiva que não terminava, graças às raízes de longo alcance e que a ninguém perdoava seu abraço, a árvore era o centro do lugar, onde e por onde todas as coisas aconteciam. Depois de décadas de mesmos habitantes, passou a ser conhecida como Árvore dos Rapineiros, pois nela dividiam espaço, corvos, urubus, gaviões e carcarás. Não era, todavia, uma convivência fácil, e as quatro espécies passavam os dias e os anos empenhados em suas brigas; bicos, pés e asas para todos os lados. Cada qual queria um pedaço a mais da árvore só para os seus. Quem via-os de fora jurava que logo logo terminava a Sociedade da Árvore Cinzenta, entretanto, as décadas passavam e lá estavam corvos, urubus, gaviões e carcarás, brigando e se estapeando, mas muito unidos quando qualquer águia tentava entrar em seus domínios.

Coluna publicada no Jornal Destak desta sexta-feira, 25.