Star Wars: Episódio VIII e o estado de guerra permanente



Ainda não tinha assistido Star Wars: Episódio 8. Enfim, o fiz, sempre distanciado das discussões entre fãs e críticos, mas que por alto me deparava por aqui e ali. Não entrarei nelas, não é a intenção. Na verdade escrevo aqui para talvez discorrer com brevidade sobre aquilo que move cada nova sequência da franquia.

Desde a estreia da saga nos cinemas, lá no final dos anos 70, já em seu episódio VI, a guerra, por óbvio é o elemento central do filme. Uma guerra ad aeternum  que desde então se desenrola entre as forças do Império e A Resistência. Nesse caos entre tiros de lasers cá e lá, espero que a esta altura todos já tenham percebido que "a nova esperança" está morta porque, por mais que você pense haver um lado justo nesta luta contra a tirania, a derrota é permanente, já que a guerra em nenhum momento é questionada. Pelo contrário, Star Wars trabalha na perspectiva dominante de nossa cultura, a guerra com seus valores positivos, donde saem os justos e os vitoriosos, em que a paz é conquistada pela força. Todavia, há um preço que apenas num ou outro momento causam comoção em seus combatentes. A guerra então é espaço para audaciosos heróis, para mártires, evocados pelo cinema tanto quanto qualquer fundamentalista talibã. Ou você ainda não percebeu a quantidade de "heróis" que se sacrificam pela causa? Não só em Star Wars, mas como no cinema como um todo.

Mas prossigamos. Falava da Star Wars, O Último Jedi. Bom filme, aliás, um tanto semelhante com o Episódio IV, mas com mais escapes humorados, tipo os esquemas da Marvel, enfiando alguma gracinha no filme. Temos aqui a sequência das lutas, a instabilidade permanece, com ela a guerra. Aliás, Episódio 8 chega próximo de uma crítica à guerra quando DJ mostra a nave do comerciante de armas que as vende para os dois lados do conflito. É contudo, uma crítica tão tênue, que passa quase esquecida. Algo maior, e provavelmente desprovido de intencionalidade, é na verdade o final-prelúdio de Episódio 8.

Quem assistiu ao filme sabe. Depois de muita guerra e adrenalina, assim como todos os finais da saga, temos um final-prelúdio. Isto é, trata-se do final daquele episódio, entretanto o prelúdio do próximo. Como os ganchos de capítulos. Em Star Wars a guerra é um estado permanente, aliás, bem parecido com certo país aí. Tanto que ao final do filme, talvez ainda sem perceber a força da pergunta, questionei a meu filho "você sabe, né, por que vai ter sequencia?" Ah sim, não considero spoiler, por isso digo que o final de Episódio 8 busca trazer uma aura de esperança ao propor que haverão mais soldados para a guerra nas estrelas, em seu futuro.

Quanto a resposta para a pergunta, você certamente já respondeu. Afinal, chega de doer de tão simples. Star Wars terá seu Episódio 9, 10... por uma razão lógica, a guerra não terminou, pois se acaso terminasse, bem aí acabariam os filmes, claro. Acabando os filmes, acabaria o dinheiro, grana não existente, mas a se fazer e lucrar a cada novo lançamento. E no caso de um filme que a guerra faz o título e a gênese, a paz, claro é uma impossibilidade. Simples, não é? Como poderá A Resistência vencer o Império e trazer a paz enquanto a guerra estelar estiver rendendo bilhões? 

É na sua longevidade apenas que podemos encontrar alguma crítica social em Star Wars. Involuntária, diga-se. Pode parecer simples, mas o fato é que franquia não encontrará a paz pela mesma razão que as nossas guerras nunca terminam. Por dinheiro, em primeiro lugar, junto disso, poder. Mesmo diante tantos horrores e dramas vividos pela sociedade humana e suas guerras, elas persistem porque protegida por névoas está uma razão um tanto óbvia: guerras geram fortunas. Vide os orçamentos militares tão milionários ao redor do globo, de modo que enquanto houver dinheiro e enquanto armas renderem bom dinheiro, assim como na saga Star Wars, a paz nos parecerá sempre uma impossibilidade.