A morte do "politicamente correto" e ascensão do "terrivelmente evangélico"




Está por completar o primeiro ano de aniversário de morte do "politicamente correto". Logo ali, na virada dos números, quando a volta dos ponteiros indicar um novo janeiro. Destoando dos anúncios fúnebres, o defuntismo do politicamente correto foi anunciado com festa e pompas. Coisa oficial. Institucional. Abertura de um nova era. Uma nova era que exigia o anúncio dessa morte. Se está morto, não sabemos, mas anunciado, ah isso foi. E como foi.

Agora, o que isso significou? O quanto deveríamos comemorar ou chorar a partida do "politicamente correto" numa viagem de braços dados com Caronte por um rio qualquer? Desveríamos esquecer ou relembrar esta morte? Investigar ou não o possível assassinato? O "politicamente correto" está morto disse alguém, e um miúdo qualquer poderia perguntar "e o Keko?"."Keko?". "Que que tenho a ver com isso?"

Não sei. Dessabemos as coisas.

Mas desconfiamos de muitas.

Por exemplo, rei morto, rei posto diz o ditado mais velho que andar para trás. Verdade. Desaparecido, morto, quiçá escondido, melhores condições, o "politicamente correto" deixou um vácuo que não demorou a aparecer mais e mais, "o terrivelmente evangélico". Tipo um Power Rangers que tem um zord bem grandão e mais forte. Se o defunto "politicamente correto" tinha das suas, o zord "terrivelmente evangélico" vem crescendo, crescendo, crescendo com uma fome irrefreável pela censura e pela imposição de ditames. "Isso é do diabo" carrega força e se infiltra em cada canto que pode. Nos cantinhos do poder, melhor ainda. Se o "politicamente correto" tinha lá suas ambiguidades, o "terrivelmente evangélico" não disfarça suas intenções radicais. É projeto. É sistema. É ânsia. De poder.

Um bebê parrudo é o que é esse "terrivelmente evangélico".

Mas quanto ao defunto da efeméride?

Vou saber. Talvez contratemos um detetive. Um Espinosa, um Holmes, Poirot, Marple... Quem sabe elucidar o mistério ou não-mistério que o cerca. Sua morte, seu desaparecimento por decreto parece ter trazido muitas consequências.

Há quem diga que "politicamente correto" fazia as vezes de um Cérbero. Trancando portas donde saem monstros e demônios. Não se dá pra descartar de um todo. Há muito monstro desfilando por aí depois da citada partida. Gente horrível orgulhosa de suas suásticas, bradando seus preconceitos, mostrando com punhos e armas suas intolerâncias. 

Há uma festa das criaturas nefastas. Uma festa que talvez não dure muito, mas cujos estragos já são tenebrosos.