Às favas com a importância da educação


Compartilho abaixo meu artigo que foi publicado no Jornal Gazeta do Sul de 15/02/2016. Quem desejar acessar o link original aqui, ou ver no PDF do jornal, aqui.

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É bem provável que o título deste texto gere certa revolta antes mesmo que seja feita sua leitura. É que recentemente, no Brasil, a impressão superficial é de que a educação de fato entrou na pauta e nas preocupações dos lares brasileiros, contudo, refletir sobre essa questão é a motivação do título provocativo, afinal, será que de fato a sociedade valoriza e enxerga corretamente o papel da educação? O questionamento é pertinente diante de um cenário em que cada vez mais observamos vozes que falam de certa forma a mesma língua: “a educação é o caminho para o desenvolvimento do País”, ou então, “temos que priorizar e investir principalmente na educação”. Tais conceitos, que, diga-se, são inquestionáveis, são evocados do cidadão mais humilde aos grandes meios de comunicação. Todavia, se por um lado vemos que o assunto encontra-se em pauta nacional, por outro é preciso observar até onde discurso e prática se unem, ou se separam. Na verdade, não se pode negar que geralmente esse é um tipo de discussão em que se apresenta apenas um lado com erros: os governos. Entretanto, seriam apenas os governos que mandam às favas a educação brasileira? É preciso discutir até que ponto o conjunto da sociedade realmente estabelece a educação como sua prioridade. Para uma sociedade que teoricamente dá importância à educação, é no mínimo curioso observar o tratamento geral dispensado aos acadêmicos de licenciaturas, nossos futuros professores. Não será raro encontrar universitários que, ao responderem à simples pergunta “o que estás cursando?” escutarem um “ah” muxoxo, cheio de pena e decepção. Isso é apenas uma das confirmações do quanto ainda não se dá verdadeiramente a importância da educação na nossa sociedade, em que quem opta pela carreira de professor é uma figura praticamente passível de pena, fruto do descaso com uma das profissões vitais a qualquer nação. Outro fenômeno que demonstra o quanto a sociedade está longe de importar-se com a educação são os movimentos por redução de salários de vereadores aos patamares dos salários de professores; ou seja, como ato punitivo, recebam o mesmo que os professores. Mas o problema não está em querer baixar salários de agentes políticos, mas sim no âmago da problemática: a sociedade reconhece que a remuneração dos professores é baixa, consegue mobilizar-se para baixar salários de seus líderes políticos, contudo é incapaz de fazer a mesma coisa para remunerar justamente os professores de seus filhos, ou seus próprios professores (ainda não vi mobilização social para aumento de salário de professores, e, não raro, encontrar-se-á quem diga que o que estes ganham é suficiente); ou seja, há nessas ações o reconhecimento tácito da má remuneração de professores, contudo nenhuma ação social para que se mude isso. Além disso, vemos cada dia mais uma responsabilização ampla da educação sobre todos os males e problemas da sociedade, como se a escola fosse a única tábua de salvação de um país. Não raro, muitas famílias veem na escola uma espécie de terceirização de toda a responsabilidade pela educação de nossos jovens. Nunca é demais reforçar (inclusive está na lei) que a educação é uma responsabilidade da escola e das famílias. A despeito de uma sociedade que diz que a educação é essencial, ainda estamos longe de ações efetivas que justifiquem o discurso.